Projeto feito em parceria com a artista visual Teresa Swiedert, que me convidou para fazer seis peças sonoras a partir de falas de agricultores guarani da aldeia Kalipety. As peças viraram discos de vinil, dos quais foi feita apenas uma unidade de cada. No entanto, é possível escutar a versão digital das peças no site do projeto (escute aqui). Lá você encontra muitas informações sobre este projeto muito especial que a artista resumiu assim:
Substrato Guarani é uma investigação sobre a correlação entre a vida do solo e a vida dos agricultores Guarani Mbyá que vivem na aldeia Kalipety, dentro do território Tenondé Porã, na zona sul de São Paulo.
Substrato Guarani é um exercício de escuta, uma tentativa de tradução dos desenhos e das cores das partículas que compõem o solo junto dos sons que estruturam a palavra de quem planta.
Substrato Guarani é uma composição e uma confluência de coisas, seres, visões, sons e diferentes técnicas.
Substrato Guarani é uma coleção/arquivo de discos de vinil, acompanhado de imagens e textos produzidos por uma diversidade de existências, são elas:
Concepção, coordenação geral do projeto, fotografias e design: Teresa Siewerdt
Agricultores:
Jera Guarani
Pedro Karai Mirĩ
Wera Pires
Wera Mirin Alcides
Karai Poty - Manoel Lima
Karai Claudio
Peças sonoras: Rodolfo Valente
Captação de áudio
Kerexu Mirim
Kerexu Martim
Tradução do Guarani: Jordi Karai Mirĩ
Tradução/leitura da Cromatografia de Pfeiffer: Sebastião Pinheiro
Produção, captação de imagens e marcenaria: Pablo Paniagua
Minha peça memorial do granito, para piano e sons eletrônicos foi lançada como parte de Ramos, o novo álbum da pianista brasileira Luciane Cardassi publicado pelo selo canadense Redshift Music Society e agora disponível nas principais plataformas digitais, como Apple Music, Deezer, Spotify e Bandcamp. Este álbum traz peças para piano e eletrônica compostas para ela por Rafael de Oliveira, Edson Zampronha, Maria Eduarda Mendes Martins, Paulo Guicheney, Rodrigo Meine e Paulo Rios Filho.
É assim que Cardassi descreve seu novo álbum:
"Ramos mostra sete obras criadas em colaboração com sete compositores brasileiros, explorando novas formas de se relacionar com e refletir sobre o mundo atual, incluindo os próprios processos criativos em si mesmos. Estas obras eram inicialmente parte de um projeto mais amplo, de 10 anos - intitulado Going North - através do qual eu desenvolvi diversas colaborações com compositores do meu país natal, o Brasil, junto com outros do país que adotei, o Canadá. Todas as sete obras gravadas aqui desafiaram e expandiram meus papéis de pianista e de performer. Elas me exigiram usar minha voz de novas maneiras e desenvolver novas maneiras de promover sincronicidade com os meios eletrônicos. Os processos criativos que levaram a esse repertório continuaram durante a gravação e produção do álbum propriamente dita, em colaboração com a engenheira de som Amandine Pras. Sou profundamente grata a cada um dos compositores que embarcaram nesta jornada comigo e espero que a experiência de escuta para vocês seja tão recompensadora quanto os processos criativos foram para nós."
bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonnerronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk!
thunderword. donnerwort. palavra mal dita: palavratrovão. trova-trovão,
palavra-palavrão. palavra impossível, palavra indizível, palavra
impronunciável. palavra sem sentido que contém tantos sentidos. trovão,
trovão, trovão e outra vez trovão. em todas as línguas ou ao menos nas
línguas que pode conter uma boca. se o sentido pleno não se revela a uma
só consciência, evocaliza a onisciência
de todas as línguas, de todos os deuses-trovão: thores, júpiteres,
zeuses, iansãs: tonitroante palavra que é o que é. o verbo faça-se, o
verbo-luz. verbo inaugurador de mundos que no verbo não cabem, enquanto
que o verbo não cabe no mundo. palavra-objeto sonoro, objet trouvé,
trovejado, trovado, atrevido, trevado, travado na língua.
trovaneio-delírio em joyce, enjoy-se.
Tomando como ponto de partida a primeira das "thunderwords", palavras de
cem letras ou mais que perpassam o Finnegan's Wake, último romance de James Joyce, palavratrovão #1 foi escrita e dedicada para o Ateliê Contemporâneo, da
Escola Municipal de Música de São Paulo, grupo coordenado por Tiago
Gati.
O vídeo acima contém a gravação ao vivo da estreia realizada pelo grupo em 13.12.2018,
na Sala do Conservatório, na Praça das Artes em São Paulo, SP, Brasil.
Com: Allan Dantas, regente Gabrielle Camacho, voz Fabio Simão, trompete Joachim Emidio, percussão Samuel Moreira de Mello, violino Rodrigo Prado, violoncelo Julio Nogueira, contrabaixo
ruído cinza, silêncio cinza é uma peça octofônica, composta por oito cartazes de cores distintas, a
serem afixados em ambiente urbano (preferencialmente em postes de
iluminacão adjacentes entre si ou posicionados em lados opostos da
mesma via, de maneira a sugerir um percurso possível entre eles). Sete destes
cartazes têm a palavra “ruído” grafada em caixa baixa,
sendo que o oitavo traz a palavra “SILÊNCIO” escrita em maiusculas, sendo o texto sempre na cor cinza. Os nomes das cores que preenchem os cartazes são comumente utilizados na área de áudio para descrever diferentes tipos de ruídos, fazendo em geral analogia com o espectro de cores presente na luz visível.
Ruído colorido
O ruído branco contêm todas as frequências audíveis para o ser humano soando com a mesma energia (tal qual a luz branca contém a somatória de todas as cores visíveis).
Já o ruído rosa tem menos energia em direção às frequências agudas e mais energia em direção às frequências graves, sendo que a intensidade de cada frequência (f) obedece à proporção de 1/f (como o vermelho é a cor com a frequência mais baixa, este ruído é chamado rosa, por ser um branco puxado para o vermelho). Há também o ruído vermelho, cuja ênfase nas frequências graves é ainda maior (proporção 1/f²), sendo também imprecisamente chamado ruído marrom, pois suas frequências podem ser geradas por um movimento browniano. Fala-se também em ruído azul e ruído violeta, obtidos invertendo-se a relação entre frequências graves e agudas nos ruídos rosa e vermelho/marrom, respectivamente. O ruído preto é um termo que não tem uma aplicação técnica consensual, podendo se referir à ausência total de frequências (silêncio), em oposição ao ruído branco.
Por último, o ruído cinza seria um ruído atenuado por uma curva específica que respeita a sensibilidade do ouvido humano (que é maior em algumas frequências e menor em outras), de maneira a garantir que todas as frequências sejam percebidas com a mesma intensidade. Essa ênfase na percepção faz com que idealmente não possa existir um único ruído cinza, pois condições escuta específicas e mesmo características individuais de cada ouvido podem interferir neste equilíbrio percebido das intensidades. O ruído cinza tem portanto nuances determinadas por uma condição de escuta específica, localizada e individual.
A cidade cinza
No contexto urbano da cidade de São Paulo, a cor cinza ganhou uma nuance especialmente dramática, sendo usada para cobrir de maneira arbitrária e espetacular de porções de arte urbana, tomada pela administração municipal como ruído indesejado a ser silenciado para "embelezar" a cidade. Cinza, ruído e silêncio são elementos que esta intervenção busca, de alguma maneira, trazer para a escuta.
Os espaços escolhidos para duas intervenções realizadas até o momento são palco de disputas pelo espaço urbano que colocam o som em posição privilegiada. Na praça Roosevelt, os mesmos teatros que impulsionaram a revitalização da região há não muito tempo foram multados por excesso de barulho. Já a Luz, tem um espaço privilegiado dedicado à música, à Sala São Paulo, que constitui um enclave estratégico para um processo de especulação imobiliária de grandes proporções que já está em curso há décadas e recentemente está se acelerando.
Intervenção realizada na Praça Roosevelt, em São Paulo (29.08.2017).
Registro audiovisual: Rui Chaves
Intervenção realizada na região da Luz, em São Paulo (14.09.2017).
O projeto _gestuário reúne a dançarina Maíra Alves, o compositor Rodolfo Valente e o violoncelista William Teixeira, espécie de recital para violoncelo, sons eletrônicos e dança, que toma forma em torno de duas áreas nas quais a gestualidade emerge como uma área de investigação privilegiada: a música eletroacústica mista (que combina instrumentos acústicos e sons eletrônicos) e a dança contemporânea. Estreado em outubro de 2016 no estúdiofitacrepe-sp, este projeto visita um repertório construído a partir de colaborações diversas entre seus integrantes Eduardo Frigatti, Felipe de Almeida Ribeiro, Felipe Merker Castellani, Danilo Rossetti. Além de atuar operando os sons eletrônicos em todas as peças, também contribuí para o repertório com o estudo sobre materiais resistentes nº1.
Neste estudo, realizei interferências de escritura e eletrônica na
conhecidíssima suíte em ré menor BWV 1008 de J. S. Bach. A gravação acima contém apenas o primeiro movimento, que já havia "reescrito" em 2011 com o intuito de fazer parte da trilha sonora de um
longa-metragem do cineasta Alexandre Charro. O ponto de partida foi uma linha diagonal traçada na página da partitura, indo do canto superior direito ao canto inferior esquerdo. O que estava escrito à esquerda da linha foi mantido no original, o que estava à direita foi completamente reelaborado, buscando uma rítmica mais solta, diferentes formas de emissão sonora (harmônicos, pizzicati, etc.) e uma certa estranheza harmônica. Como se aos poucos fôssemos saindo de um universo sonoro extremamente familiar, que vai desaparecendo para dar lugar a uma textura sonora completamente diferente, acentuada por uma multiplicação eletrônica destes novos sons, que também vai se fazendo cada vez mais presente.
Mostrei a partitura para o violoncelista William Teixeira e, por conta de nossa conversa, em 2016 "reescrevi" os demais
cinco movimentos da suíte (allemande, courante, sarabande, menuett,
gigue), cada um com um tipo específico de intervenção . Até o momento,
apresentamos esta peça duas vezes, uma em Curitiba, outra em São Paulo (já incorporada ao projeto _gestuário). Temos a intenção de em breve fazer novas apresentações deste projeto e, se tudo der certo, também uma gravação completa das composições.
Este mês de outubro traz três oportunidade de escutar meu trabalho de composição eletroacústica, com um concerto no Piauí e dois em São Paulo.
Dia
6, às 20h, haverá um concerto muito especial no Café Concerto do SESC Caixeiral em Parnaíba, no Piauí:memorial do granito (2015),
para piano e sons eletrônicos será tocada pela primeira vez no Brasil pela pianista
Luciane Cardassi, para
quem a peça foi escrita e dedicada. A difusão dos sons eletrônicos, ficará a cargo do compositor Paulo Rios Filho, que organiza o concerto e também apresenta sua peça Ramos. Siga aqui a programação do SESC Piauí.
Também no dia 6, a mais de 3 mil quilômetros dali, às 20h30, faço a difusão de minha peça acusmática espectro
jasmim (2012), com a orquestra de 52 alto falantes do Studio PanAroma/Unesp, dividindo o
programa com colegas alunos e ex-alunos do estúdio. Este concerto faz parte da XI BIMESP, a imperdível Bienal de Música Eletroacústica de São Paulo, organizada pelo Studio PanAroma, com direção artística de Flo Menezes, veja a programação completa aqui e siga o evento no facebook.
No dia 15, às 17h, apresento o projeto Gestuário junto com o
violoncelista William Teixeira e a dançarina Maíra Alves. Trata-se de um repertório que trabalha as gestualidades dos sons instrumentais,
eletroacústicos e da dança em combinações diversas. Apresentarei meu estudo sobre materiais
resistentes nº 1 (2011-2016),
no qual realizo interferências escritas e eletrônicas na conhecida Suíte nº 2 em ré menor (BMW 1008) de J. S. Bach. O programa se completa com
peças de Danilo Rosseti, Felipe de Almeida Ribeiro, Eduardo Frigatti e
Felipe Merker Castellani, nas quais farei a difusão
eletroacústica. Confira aqui a agenda do estúdiofitacrepe-sp.